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sexta-feira, 8 de maio de 2020

O pimpão e o Nescau por maria carvalho

Estava aqui conversando com meus pensamentos e lembrei de algo que aconteceu comigo relacionado ao tema inclusão. Pode até parecer coisa da minha cabeça, mas acabei por fazer link da minha vida e de muitos, com a vida de dois pintinhos. Isso mesmo, dois pintinhos. minha mãe e meu pai, resolveram trazer um pouco de suas vidas rurais para a cidade de fortaleza. Criando na frente de nossa casa umas galinhas. Elas são criadas praticamente na rua, pois nossa casa não tem espaço, como nosso pequeno bairro/conjunto não é tão movimentado, isso da certo até. Porém, meu pai não contente com isso, resolveu comprar uns pintinhos de granja, dentre eles um pintinho que veio com uma diferença. Ele, veio com o bico tortinho. As outras galinhas e pintos, maiores que ele, o picavam, pisavam nele, em fim. Quando colocávamos comida para eles, os pintos e galinhas praticamente massacravam o pobrezinho. E ele por ter o bico tortinho, demorava muito pra conseguir comer um grão de milho, tinha que dar umas 10 bicadas pra conseguir pegar um si quer, e ainda si, os outros deixassem. Minha mãe por sua vez, resolveu colocar milho molhado, pra ver se ele conseguia comer junto com os outros. Até conseguia melhor, porém, os outros não deixavam ele pegar. E ele, que já era um pinto sem penas pela raça, ficava sem menos penas ainda, devido os outros bicarem ele, era um sofrimento pro bichinho. Minha mãe então com pena dele, resolveu deixar ele aqui em casa. E descobrimos que ele, consegue pegar com menos dificuldade, arroz cosido. Então, minha mãe pegava o que sobrava da panela, aquela partezinha do fundo da panela e dava pra ele. Por que aqui é que nem coração de mãe, sempre cabe mais um. Principalmente um ser vivo inocente. Resolvemos então ficar com ele em casa, e o nomeamos de pimpão. Entretanto, 4 dia depois que o pimpão estava em nossa humilde residência, minha mãe e minha sobrinha, foram no comercio comprar algo pra comer, e na volta, viram uma das galinhas, que tinha acabado de chocar, bicando bravamente um pintinho marrom recém-nascido. Julgaram ser o filho dela, mas ela tava picando ele e ele podia morrer. Então minha mãe correu, e tirou o pintinho de lá. Quando elas chegaram em casa, viram que o pintinho recém-nascido estava com a orelha, sim, pintos tem orelha, mas estava sangrando. então minha mãe resolveu cuidar daquele pintinho recém-nascido até ele ficar bom das bicadas da galinha, e depois devolver a ela, depois do estresse pós-parto. Minha mãe achava que isso era só uma coisa passageira da galinha. Pimpão que já era um pinto crescido, não gostou muito do pintinho marrom. Queria bicar ele também. Mas o biquinho do pimpão, nesse caso foi bom, porque era tortinho, e não conseguia bicar o pintinho menor. Nossas deficiências as vezes nos impedem de fazer algo que não deveríamos fazer. E isso é bom. Minha mãe cuidou dele, ele já tava ficando bom, e o levou para a mãe dele, que mais uma vez quis matar ele assim que o viu. Ela tinha outros pintinhos, e com eles ela cuidava, mas desse pintinho ela tinha um ódio mortal. Então, deixamos mais um pintinho em nossa casa, que foi nomeado de Nescau. Por que a minha sobrinha tinha ido comprar Nescau quando encontrou ele, e por que ele tinha cor de Nescau. Agora o paço seguinte seria fazer pimpão e Nescau serem amigos. Pimpão que havia sido rejeitado por ser diferente, e Nescau, por ter sido rejeitado pela mãe no nascimento. Depois de muitas tentativas, conseguimos fazer com que pimpão não tivesse mais vontade de bicar ele. E pimpão praticamente passa o dia todo dentro de sua panela de arroz. E Nescau, correndo atrás dos pés de quem passa na frente dele. Acompanha todo mundo, e adora se esconder nos cantos onde tem calor. Ele sente falta do calor da mãe. Mas não há quem supra esse calor e por muitas vezes ele fica piando sozinho. Link que fiz com minha vida. No caso do pimpão, assim como eu já fui um dia descriminada por ser diferente, ele também foi. E assim como minha mãe teve que procurar meios para que eu pudesse me adaptar melhor, a gente também adaptou o pimpão com a diferença dele. No caso de trocar o milho por arroz pra que ele conseguisse comer. Por exemplo, pra eu escrever com letra ao negro igual a todo mundo, foi preciso adaptar um computador com leitor de telas pra que eu pudesse digitar e as letras saírem em meu ouvido e pra vocês ao mesmo tempo. E pra não atrapalhar as pessoas fazerem o que tem que fazer, uso fone de ouvido pro áudio do leitor de telas não atrapalhar a vida das pessoas ao meu redor. O Braille, poucas pessoas entenderiam, fora do meio de pessoas com deficiência visual, então adaptação inclusiva digital, no momento tem sido a solução a pesar de eu saber Braille e amar. No caso do Nescau, quantas e quantas crianças são recusadas pelas suas mães ao nascer sem motivo? Quantas e quantas crianças são abandonadas ou até abortadas antes de nascer? É cruel, mas acontece. Infelizmente acontece. E essas crianças, por mais que tenham carinho de outras pessoas, vão sentir falta, vão sentir falta do calor da mãe, do abraço, do carinho. E quem nunca se sentiu rejeitado por algum membro da família, seja distante ou não? Se você já foi, lembra da sensação? É ruim não é? Dói, dói muito. E fico imaginando que pra Nescau, os piados dele é isso. Se pintinhos tem sentimentos, creio que ele sente muito. Eu senti quando fui rejeitada por minha família, não minha mãe, mas outros membros, e apesar de ter minha mãe me dando carinho, sinto, hoje adulta ainda sinto falta do que eu não tive quando criança do meu pai. Inclusive, amo filmes de pais que cuidam dos filhos. Acho que tem algo haver. Mas foco Maria, foco no que tu ta escrevendo. Ok, voltando... Sobre Nescau e pimpão. Sabe aquela história de que todos rejeitados são amigos? Ou que deveriam ser? Não acontece com o ser humano, e não acontece com os pintinhos. Eles se suportam, mas só. Até que o Nescau tenta. Mas, o pimpão não quer. Será que ele tem ciúmes? Ou é a diferença de idade? Não sei. Eu só sei que minha casa ta bem engraçada. E após essa pandemia creio que terei muitas histórias pra contar. Algumas boas, outras nem tanto. Mas que quando a gente escreve desabafa, e por isso que estou aqui escrevendo esse texto com minhas reflexões sobre pintos, e também por que na pandemia a gente procura o que fazer também.

2 comentários:

  1. ah, Maria tambem e escritora!!!!!!!
    gostei muito!!!!!!
    mais um talento que vamos descobrindo, KKKKKKKKK.
    e este jeito de comparar um lance animal com a vida, simplesmente amei.

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    1. aaa escritora mesmo não sou, mas gosto as vezes de tirar meus pensamentos pro papel. que bom que gostou!

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